Itens de papelaria entram na rotina das famílias
Materiais vendidos em papelaria, de perfil escolar, ganharam apelo lúdico e têm sido aliados dos pais para divertir e estimular as crianças em meio ao distanciamento social
Desde o ano passado, as famílias têm experimentado um convívio inédito e intenso dentro de casa, causado pela pandemia de covid-19. Nesse contexto de distanciamento social, os pais precisaram abusar da criatividade para levar novas atividades e brincadeiras à criançada. E o chamado entretenimento lúdico pôde auxiliar, ainda, a diminuir o apego dos pequenos às tecnologias como celular, tablet, videogame e televisão. Os itens de papelaria, com isso, ganharam destaque na rotina dos lares por meio de diferentes utilidades.
Materiais com perfil, até então, estritamente escolar, como tintas guache, papéis e colas vêm sendo aproveitados pelos papais como uma maneira de divertir as crianças e aliviar as tensões da rotina imposta pelo vírus. Segundo um levantamento do site Leiturinha, realizado em junho de 2020, brincadeiras com tinta e pinturas com água são duas das 10 atividades mais pesquisadas para fazer na quarentena.
Exercício da criatividade
No apartamento da jornalista Waleska Borges, de 42 anos, o que não falta são artigos de papelaria para a recreação da filha Lara, de 6. “Quase todos os dias proponho atividades para ela com esses materiais. Tenho papéis coloridos, cartolinas, guache, barbante, cola, tesoura, glitters, entre outros. Nós temos ficado a maior parte do tempo em casa, e uma das saídas que encontrei foi exercitar a criatividade da Lara. Muitas vezes, quando preciso trabalhar, a coloco em uma mesinha infantil ao lado da minha e ela fica ali desenhando e brincando. Isso também me ajuda no dia a dia”, afirmou Waleska.
Mãe e filha têm feito juntas, por exemplo, bonecas de isopor e fantoches de meia, decorados com tinta e lã; pinturas com lixa e giz de cera; e um castelinho rosa montado com papel higiênico, EVA e pintado à mão. “Ela fica super orgulhosa dos resultados e postamos tudo nas redes sociais. É também uma maneira de tirá-la de perto do celular e da TV”, destacou Waleska.
“A atividade que mais gostei de fazer foi o fantoche de meia. A minha bonequinha Vinhete (nome que ela deu para o fantoche) é minha nova mascote”, contou a fofíssima Lara, que possui um perfil no Instagram (@larinhaborgesoficial) com 15 mil seguidores.
Redução da ansiedade
Diferentes estudos apontam, inclusive, que as atividades artísticas podem reduzir o estresse e trazer benefícios psicológicos para todas as idades. “Investir em atividades como pintura e desenho é fundamental para as crianças darem vazão ao que estão sentindo em meio à quarentena”, destacou a psicóloga Roberta Desnos, coordenadora pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida, em entrevista à Agência Brasil.
“Utilize materiais que facilmente estão à mão, como tesoura, fita-crepe, cola, papel, canetinhas, caixas de fósforo e rolos de papel higiênico. Com esses itens simples, convide os filhos para colocarem a mão na massa e, juntos, façam bonecos, brinquedos, máscaras, entre outros acessórios voltados para a construção de momentos lúdicos em família”, recomendou a psicóloga Marleide Oliveira.
A pedagoga Karina Siciliano, de 38 anos, aplica esses conhecimentos de forma prática na rotina dos filhos Maria Luisa, de 8 anos, e Arthur, de 6. “Se tem uma coisa que meu caçula não gosta de ouvir são as palavras ‘aula’ e ‘trabalhinho’. Mas se for ‘arte’, ele se anima e corre para fazer”, brincou ela. “Começamos com o uso de papéis coloridos em nossas atividades em casa, depois fizemos colagens e maquetes. Rolou até uma exposição de desenhos aqui em casa. Esse incentivo deu tão certo que minha filha começou a pintar telas e entrou, recentemente, para uma oficina artística”, completou Karina, que compartilha as criações em seu Instagram (@educafeto).
Na rotina da família da analista de negócios Jéssica Pimentel, de 30 anos, a arte sempre esteve presente. Nos últimos meses, contudo, os trabalhos manuais com a filha Clarice, de 7 anos, ganharam ainda mais protagonismo. “Fizemos muitas maquetes, entre elas um ‘Hotel dos Bichos’. Foi um verdadeiro projeto familiar. Usamos papelão, tinta, cola quente, musgo, papéis diferentes, entre outros materiais que tenho em casa”, contou Jéssica.
Uso inusitado
“Acabei fazendo um mini estoque de papelaria aqui, com fitas adesivas, lápis, canetinhas, diversas tintas e papéis, além de itens reciclados. Antes da pandemia, era um programa nosso passear na papelaria e comprar materiais diferentes. Na quarentena, resolvemos pedir por delivery o que vai faltando para nossas atividades”, completou a analista, que é moradora do Rio de Janeiro.
E a criatividade da dupla é tanta que até post-its se transformaram em roupas para as bonecas. “Tenho uma veia de artesã e a Clarice foi desenvolvendo também esse gosto por atividades manuais. Os quadros daqui de casa são pintados por ela. O quarto dela é todo enfeitado com trabalhinhos que ela faz. Isso é muito legal, porque além de incentivar a criatividade, a Clarice consegue expressar através da arte o que está sentindo, a sua relação com o mundo”, afirmou Jéssica.
Uma pesquisa da empresa Opinion Box, elaborada no fim de julho do ano passado, mostra que 67% dos adultos estão dispondo de mais tempo para brincar com as crianças na quarentena. Foram consultadas mais de 2 mil pessoas em todo país 56% dos entrevistados revelaram, ainda, que mesmo após o fim da pandemia do novo coronavírus , pretendem passar mais tempo com os pequenos.
Apesar disso, 55% dos adultos que moram com crianças admitiram terem certa dificuldade para mantê-las entretidas. 48% relataram que estão descobrindo opções de lazer que não conheciam ou redescobrindo algumas, enquanto 41% dos entrevistados desenvolveram um novo hobby nesse período.
Fonte – Revista da Papelaria