Alicerces da aprendizagem
Two Sides vem se dedicando a esclarecer os vários enganos sobre os impactos ambientais do papel, cartão e papelão, demonstrando que esses materiais são muito mais amigáveis ao meio ambiente do que as pessoas em geral supõem.
Frequentemente temos visto a defesa, sem fundamentos, da substituição da mídia impressa pela eletrônica, como se isso fosse a solução para os nossos muitos problemas educacionais e como se fosse uma importante contribuição para o meio ambiente.
Para argumentar sobre a grande contribuição da comunicação impressa e do papel sobre o desenvolvimento educacional, a equipe de Two Sides convidou a jornalista Fernanda Teixeira Ribeiro que palestrou em 2022 no webinar “Cognição e aprendizagem em um mundo multiplataforma“.
Confira o artigo escrito pela nossa convidada. Boa leitura!
Por: Fernanda Teixeira Ribeiro
Jornalista de formação, mestre e PhD em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Mackenzie.
A melhor compreensão do funcionamento cerebral pode trazer grandes contribuições para a educação, no sentido de pensar estratégias cada vez mais eficazes para favorecer a aprendizagem. Nesse sentido, a neurociência aplicada à educação oferece aos educadores conceitos fundamentais, baseados em evidências.
A primeira delas é que existe um tempo do cérebro, ou seja, o amadurecimento cerebral ocorre ao longo da infância, adolescência e mesmo começo da vida adulta. Isso é essencial para entender por que funções associadas ao córtex pré-frontal (a parte que se desenvolve estrutural e funcionalmente por último), como o gerenciamento de comportamentos e impulsos, ainda não estão presentes na infância e na adolescência.
A aprendizagem está ancorada nas chamadas funções executivas: memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva. Enquanto você lê este texto, por exemplo, você usa cada uma delas. A memória de trabalho permite você manter em mente uma informação enquanto passa para a linha seguinte e, ao mesmo tempo, acessar suas outras memórias e estabelecer relações. O controle inibitório é importantíssimo para evitar que você deixe de ler este texto para atender a mensagem que surge no seu Whatsapp agora, por exemplo. A flexibilidade cognitiva permite que, bem, você até responda uma urgência em seu whats e retorne para cá ou que, se hoje surgir algum imprevisto, como sua internet cair, você consiga elencar estratégias para resolver o problema. As funções executivas são onipresentes e, se você leu com atenção os exemplos acima, já consegue presumir por que a aprendizagem em papel pode ser muito útil para torná-las mais robustas.
Um artigo publicado em 2020 no The Journal of Learning Disabilities, constatou que “escrever à mão, formando letras, envolve a mente, e isso pode ajudar as crianças a prestar atenção à linguagem escrita”. De acordo com a autora principal, Virginia Berninger, professora de Psicologia Educacional da Universidade de Washington, a linguagem oral e a escrita se relacionam com a atenção e com as habilidades de função executiva em crianças do quarto ao nono ano, com e sem dificuldades de aprendizagem.
Logo, escrever à mão é muito mais que mera habilidade motora. É um engajamento complexo de várias partes do cérebro, na qual há troca de informações entre áreas motoras, sensoriais (visão, por exemplo) e, claro, o sofisticado pacote das funções executivas e da atenção. Escrever no papel durante a alfabetização é uma caminho para o desenvolvimento do cérebro.
Sugestão de bibliografia:
COSENZA, Ramon Moreira; GUERRA, Leonor Bezerra. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
DIAMOND, Adele. Executive functions. Annu Rev Psychol. 2013;64:135-68. doi: 10.1146/annurev-psych-113011-143750. Epub 2012 Sep 27.
RIBEIRO, Fernanda. Alicerces da aprendizagem. NeuroEducação, vol. 3, pág. 36-43. São Paulo: Segmento, 2015.
Quer saber mais? Assista ao vídeo: clique aqui.
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