A mídia impressa é indispensável no ensino
Two Sides é uma organização global, sem fins lucrativos, criada na Europa em 2008 por membros das indústrias de base florestal, celulose, papel, cartão e comunicação impressa. Two Sides estimula a produção e o uso conscientes do papel, da impressão e das embalagens de papel, bem como esclarece equívocos comuns sobre os impactos ambientais desses recursos. Papel, cartão e papelão são provenientes de florestas cultivadas e gerenciadas de forma sustentável. Além disso, são recicláveis e biodegradáveis.
Também temos defendido que a mídia impressa é muito eficaz e, com raras exceções, continua a ser indispensável, apesar das opções de comunicação digital (1). Certamente não se imagina, por exemplo, a volta das enciclopédias impressas como fontes de informação. Essas e outras obras de consulta funcionam muito bem na forma digital. No entanto, vários estudos científicos têm confirmado que a leitura a partir da mídia impressa é muito mais eficaz para a compreensão e memorização de conteúdo do que a leitura em telas.
Segundo Maryanne Wolf, neurocientista e diretora do Centro para a Dislexia da Universidade da Califórnia, diferentes plataformas demandam diferentes capacidades cerebrais. Ela se preocupa com o fato de que a mistura de estímulos mentais proporcionada pela leitura em dispositivos eletrônicos pode comprometer seriamente a capacidade de leitura aprofundada de textos que demandam maior concentração, além de dificultar a própria construção de um pensamento crítico original (2). Já Michel Desmurget, diretor do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, defende que o uso excessivo de aparelhos digitais causa diversos problemas para o processo de aprendizagem, como déficit de atenção e dificuldade de concentração (3).
Em outro artigo, publicado na revista Scientifc American, Ferris Jabr apresenta as vantagens da leitura em papel em comparação com a leitura em dispositivos eletrônicos, mostrando que estes últimos podem inibir a compreensão dos textos (4).
Outro estudo afirma que a conectividade cerebral em crianças aumenta na medida do tempo que elas empregam lendo livros e decresce em proporção ao tempo de exposição às telas (5).
Segundo análise dos resultados do PISA 2018, os especialistas da OCDE concluíram que os estudantes que declaram lerem mais frequentemente livros em papel que no formato digital têm um desempenho melhor em leitura e investem mais tempo em leitura como lazer, isso em todos os países participantes (6).
O estudo “Papel e Digital: Pesquisa sobre a Eficácia dos Materiais Didáticos”, publicado pela International Publishers Association (IPA) e pela Norwegian Publishers Association mostra que apesar da inserção de mídias digitais nos processos educacionais, o livro didático impresso continua sendo um instrumento de aprendizagem indispensável (7).
Preocupada com essas importantes questões, a Comissão Europeia promoveu diversas pesquisas sobre o tema, no âmbito de um projeto intitulado “E-Read”8. Durante quatro anos, cerca de duzentos acadêmicos estudaram comparativamente as leituras em papel e em dispositivos eletrônicos. A conclusão foi sintetizada na “Declaração de Stavanger” (em referência à Universidade de Stavanger, na Noruega):
…A investigação indica que o papel continua a ser o suporte preferido para a leitura de textos mais extensos, especialmente se exigem uma compreensão mais profunda e se a tarefa de leitura requer maior retenção da informação, e também indica que é o suporte que melhor se adequa a uma leitura de textos longos de caráter informativo. A leitura deste tipo de textos possui um valor inestimável quando se visam algumas capacidades cognitivas tais como a capacidade de concentração, o desenvolvimento de vocabulário ou capacidades de memória. Assim, é importante que preservemos e promovamos a leitura de textos longos e autónomos como uma das modalidades de leitura possível. Além disso, como a utilização de ecrãs continua em crescimento, um dos desafios mais prementes será o de descobrir formas ou estratégias que facilitem a leitura aprofundada de textos de formato longo em suporte digital…
Além da leitura em papel, tomar notas em cadernos também se revela mais estimulante para o cérebro e mais eficaz na aprendizagem do que em equipamentos eletrônicos. Numa pesquisa recente da Universidade de Tokio, orientada pelo neurocientista Kuniyoshi Sakai, estudantes que fizeram anotações à mão, em cadernos, apresentaram melhores resultados em memorização e compreensão do que aqueles que usaram tablets. Durante os testes, as atividades cerebrais dos estudantes foram monitoradas por ressonância magnética. Naqueles que usaram a escrita manual verificou-se atividade cerebral muito mais intensa em áreas associadas com linguagem, memória, orientação e visualização (9). Segundo o cientista japonês, a escrita à mão é mais eficaz porque estimula muito mais o cérebro, pelo desenho das letras, pela sensação tátil do contato com o papel e com a caneta (ou lápis) e pela distribuição das informações no espaço da página.
Países que se destacam no mundo pela excelência de seus sistemas educacionais estão revendo a ênfase exagerada na substituição dos livros físicos pelos eletrônicos, como reação a uma queda verificada nas habilidades de leitura dos estudantes. Esse é o caso da Suécia, onde recentemente o governo decidiu ampliar fortemente os investimentos na aquisição e distribuição de livros em papel (10).
O estímulo ao uso da mídia eletrônica nas escolas em substituição aos livros físicos – cuja eficácia superior está amplamente demonstrada – tem outra grave consequência deletéria. Ao sinalizar aos estudantes a preferência pelo livro didático eletrônico, as escolas desperdiçam a rara oportunidade de se constituir em espaços de desconexão que possam ajudar a equilibrar o apelo avassalador das mídias digitais na vida dos jovens. Deve-se levar em conta as inúmeras evidências dos prejuízos à saúde física e mental que o abuso das mídias eletrônicas vem causando aos jovens (11, 12, 13).
Embora a aprendizagem em plataformas digitais possa ajudar a desenvolver outras capacidades também úteis, parece claro que a leitura em papel, que moldou até agora a transmissão do conhecimento nas nossas culturas, não pode ser de nenhuma maneira colocada em segundo plano sem graves consequências para a qualidade da educação.
Fontes:
- https://twosides.org.br/aprendizagem-e-educacao/
- “O Cérebro no Mundo Digital – Os Desafios da Leitura na Nossa Era”, Editora Contexto.
- “A fábrica de Cretinos Digitais”, Editora Vestígio.
- “Why the Brain Prefers Paper” EBSCOhost (ucla.edu) –
- “Brains connectivity in children…” https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29215151/ – National Library of Medicine
- 21st-Century-Readers-Executive-Summary.pdf (oecd.org)
- Livro digital “Papel e Digital: Pesquisa sobre a eficácia dos materiais didáticos” » Abrelivros
- http://ereadcost.eu/stavanger-declaration/
- Frontiers | Paper Notebooks vs. Mobile Devices: Brain Activation Differences During Memory Retrieval | Behavioral Neuroscience (frontiersin.org)
- Too fast, too soon? Sweden backs away from screens in schools (lemonde.fr)
- Cérebro imaturo de jovens pode ser afetado por redes – 27/05/2023 – Equilíbrio e Saúde – Folha (uol.com.br)
- EUA advertem que redes sociais podem prejudicar jovens – 24/05/2023 – Equilíbrio e Saúde – Folha (uol.com.br)
- #MENOS TELAS #MAIS SAÚDE – Sociedade Brasileira de Pediatria_22246c-ManOrient – #MenosTelas #MaisSaude.indd (sbp.com.br)